Digital Technology
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Digital Technology
Mire. Confirme. Atire.
MATE.
Capítulo 0
Tudo naquela cidade parecia estar neutro. O céu era completo de fumaças, gases poluentes, e era completamente cinza. E com o novo regulamento, se abaixar a cabeça não vai encontrar coisas muito diferentes: apenas roupas pretas, brancas, cinzas ou azul marinho. Por que uma sociedade assim? Pois era para manter a paz.
Quanto mais a tecnologia evoluía, mais o ser humano queria tê-la consigo sempre. Mas, se você tiver ocupado com muitas leis para seguir, com contas para pagar e trabalho de dezesseis horas por dia, não vai precisar da tecnologia. Apenas se você for algo como um robô.
Dizem que os robôs já estão entre nós. Que no dia a dia, um te persegue, parecendo mais sua sombra do que um robô.
O acesso a tecnologia como computadores e celulares é completamente restrito. Você as encontra na escola, já que trazem conhecimento, e se for trabalhar na Central DTI (De Tecnologia Internacional), coisa que você precisa nascer preparado.
Aqui, ou você herda de uma boa família, ou de ruim. Somos sempre testados. Temos sempre divisões em nossa sociedade. Se você pegar uma família de porcentagem abaixo de cinquenta na escala do desenvolvimento cerebral, nunca terá um futuro. Até que você pode ter dinheiro, já que todo trabalho é recompensado, mas se pensa que um dia será conhecido, que as pessoas não te olharão estranho pelas suas vestimentas de nível padrão ou até mesmo abaixo, está completamente errado.
Toda a minha família está acima, na escala de setenta a noventa. Nunca cem. Cem é um número horrível. Cem te trará coisas que você reza para nunca acontecerem.
Não rezei o suficiente.
Capítulo 1
Os dois choravam. O leite estava frio? Não. Era pouco leite? Eles não tinham nem dois meses direito, não tomariam ou chorariam por mais daquilo. Eles queriam trocar de frauda? Nem pensar, o ambiente estava cheiroso. O que seria? O que esses dois queriam? Nunca consigo ser capaz de pensar em uma solução?
É melhor voltar ao seu projeto, se dá melhor com códigos, números e ferramentas do que com pirralhos. Pirralhos que, no caso, eram meus irmãos.
Decido ir até a cozinha, onde se encontrava minha mãe fazendo salada para nossa janta. E meu pai, como sempre, fazendo contas. Digo que tenho sorte, eles não são uma família ruim.
Minha mãe passa cerca de doze horas do seu dia em casa, e quando não está aqui, está ou no mercado ou no shopping comprando mais roupas sem graça para usarmos. Diariamente, ela fazia uma inspeção em meu quarto para conferir se estava tudo dentro de seus critérios de higiene, igual ao resto da casa. Só podia estudar antes do almoço, dormia o resto do dia. Segundo ela, dormir é mais importante do que estudar. De lá pra cá, não vinha dormindo muito, estava focada em algo genial. Algo tecnológico. Algo que o resto da sociedade iria querer ao dar certo.
Meu pai, é o único que trabalha. Por enquanto, já que daqui dois dias irei finalmente fazer o último teste de minha vida. Era algo bom, e era algo ruim. Se eu tirasse menos de cinquenta, minha vida seria um inferno. Se eu tirasse noventa, seria perfeito. Meu pai é um tipo de cara que está sempre demonstrando seus sentimentos. Está sempre com a gente quando precisamos, e se eu terminar com um garoto e minha mãe não souber ajudar, ele larga tudo apenas para voltar pra casa. Mesmo que isso nunca tenha acontecido, já que nunca namorei ou pelo menos beijei um garoto, foi apenas um exemplo.
Sempre fui muito guardada. Nunca desabafei meus sentimentos ou se por um acaso meu cansaço com ninguém. Não reclamo, não alegro. Não sou introvertida, não sou extrovertida. Meus amigos eram maiores do que eu, e saíram do colégio dois anos atrás. Ninguém gostava de conversar na sala de aula, sem ser eu. Conversava apenas comigo mesma e fazia teorias sobre como seria o teste seguinte, como seriam as perguntas, resolvendo questões aleatórias do livro digital.
Estava parada no meio do corredor. Que diabos estava fazendo? Pelo anjo, Jennifer! Dei dois passos, retornei um, dei mais dois passos, retornei um. E nisso, estava ouvindo sem eles me verem.
- Ela não será capaz.
- Ela tem que ser.
- E se ela for muito capaz?
- Então teremos outros dois para serem o suficiente.
Não deveria mesmo ter escutado aquilo. Mas o não deveria não fazia diferença, já tinha escutado. Volto dois passos, e então entro no cômodo com um sorriso forçado. Ambos olham para mim, e então caminho até a mesa. Coloco a mamadeira que trazia comigo ali, e então declaro:
- Não sei o que Jamie e Geordan tem, mas não consigo resolver sozinha. - no mesmo momento, minha mãe larga suas louças na pia, pega a mamadeira, e retorna ao quarto. Um silêncio constrangedor se alastra pela cozinha. Mas, pelo visto alguém decidiu quebrar o gelo.
- Amanhã pensei em irmos á Central, assim já podemos ver de quanto será meu pagamento. - o que eu tinha a ver com isso?
- Okay. - respondi. Seria bom sair de casa em dia de semana, quase nunca isso acontecia e, quando era, eu apenas ia para escola ou para a biblioteca. Ao virar de costas para voltar pro meu quarto, escuto novamente sua voz.
- Eu acredito em você Jennifer, o problema é que, acredito demais. - ele faz uma pausa, e engole em seco para continuar. Não olho para ele. - Ela está nervosa, ela ama você, não quer te perder.
- Pai, eu já estou perdida. Não sei o que fazer. - respondo, sincera demais. Emotiva demais.
- Seja você, nunca deixe de seguir seus instintos. Isso deve ser o suficiente. - diz ao se levantar da cadeira para tocar meu ombro. Ainda não viro. Ainda não desistirei, tenho que ser forte, tenho que... tenho que ser eu mesma. Essa sou eu. Sou fria.
- Ser eu mesma? Seguir meus instintos?
- Isso. Seja você mesma. Siga seus instintos.
No fim, eu não virei. Eu não olhei em seus olhos e lhe dei um abraço. Eu sou fria. Sou fria como gelo. Não, eu não sou fria. Minha cabeça é fria. Não quero alguém que consiga derreter isso. Mas, encontrarei o que não desejo. Encontrarei alguém quente, alguém que faça isso derreter. Algum dia.
- São três passos, apenas três passos. - São alguns dias, apenas alguns dias.
Capítulo 2
Os raios solares entram pela janela e passam pela cortina, atingindo o meu corpo e o deixando quente. Cada vez mais quente. Vou derreter. Não, não agora. Não ainda. Retiro os cobertores ainda com meus olhos fechados. Sem coragem de abri-los, procuro minhas pantufas ao me sentar. Então, os abro lentamente, pisco algumas vezes, e então inspiro e expiro. Me levanto, me espreguiço. Penso em voltar para a cama por causa de leves marteladas em minha cabeça. Mas não. Passei a noite pensando em um teste do meu novo projeto, não vou desperdiçar.
Ele não era nada básico: era um projeto sobre teleporte. Como isso seria algo básico? Exatamente por isso não é. Após alguns minutos que levantei, ouço batidas na porta de meu quarto. Me arrumo o mais rápido possível e então abro a porta.
- Cadê a minha filha favorita? - diz meu pai, com uma animação que não estava nem um pouco afim de suportar. Dou um sorriso para ele e uma revirada de olhos.
- Seria estranho se eu não fosse, já que sou a sua única filha mulher.
- Mulher não, para mim você ainda é uma criança. - ele declara rindo logo após sua fala. Nem me declaro, apenas me viro e pego minha bolsa, que já continha meu projeto habitando no seu interior. Então, vamos.
No caminho, observo como é feia a nossa realidade. Um arco-íris se aparecesse no céu com certeza seria preto e branco. As crianças estavam sendo controladas a cada momento, sendo pressionadas desde sua infância. Neste exato momento, o momento em que vi duas crianças levarem uma bronca por simplesmente estarem brincando, eu jurei para mim mesma: eu vou mudar isso. Não tenho ideia de como, não tenho ideia de um começo para isso, mas eu vou. Eu sou a revolução desta era.
No século passado ao que vivemos agora, existiu um menino chamado Gabriel Díariaz, ele foi a revolução. Não aceitava tantas leis, as pessoas não poderem se expressar, não poderem viver. Começou a sair por ai pichando paredes, demonstrando que a mudança estava a vir. Infelizmente, morreu logo após conseguir as informações necessárias. Na escola, aprendemos que isso é errado, mas vejo que nem sempre o certo é certo ao ser colocada frente á frente com a realidade em que estamos. Devemos fazer sempre o que nós achamos que é certo, não o que eles nos dizem. Eles nos manipulam, eles querem que façamos o que eles mandarem. Eu não vou seguir ordens deles.
- Jennifer?
MATE.
Capítulo 0
Tudo naquela cidade parecia estar neutro. O céu era completo de fumaças, gases poluentes, e era completamente cinza. E com o novo regulamento, se abaixar a cabeça não vai encontrar coisas muito diferentes: apenas roupas pretas, brancas, cinzas ou azul marinho. Por que uma sociedade assim? Pois era para manter a paz.
Quanto mais a tecnologia evoluía, mais o ser humano queria tê-la consigo sempre. Mas, se você tiver ocupado com muitas leis para seguir, com contas para pagar e trabalho de dezesseis horas por dia, não vai precisar da tecnologia. Apenas se você for algo como um robô.
Dizem que os robôs já estão entre nós. Que no dia a dia, um te persegue, parecendo mais sua sombra do que um robô.
O acesso a tecnologia como computadores e celulares é completamente restrito. Você as encontra na escola, já que trazem conhecimento, e se for trabalhar na Central DTI (De Tecnologia Internacional), coisa que você precisa nascer preparado.
Aqui, ou você herda de uma boa família, ou de ruim. Somos sempre testados. Temos sempre divisões em nossa sociedade. Se você pegar uma família de porcentagem abaixo de cinquenta na escala do desenvolvimento cerebral, nunca terá um futuro. Até que você pode ter dinheiro, já que todo trabalho é recompensado, mas se pensa que um dia será conhecido, que as pessoas não te olharão estranho pelas suas vestimentas de nível padrão ou até mesmo abaixo, está completamente errado.
Toda a minha família está acima, na escala de setenta a noventa. Nunca cem. Cem é um número horrível. Cem te trará coisas que você reza para nunca acontecerem.
Não rezei o suficiente.
Capítulo 1
Os dois choravam. O leite estava frio? Não. Era pouco leite? Eles não tinham nem dois meses direito, não tomariam ou chorariam por mais daquilo. Eles queriam trocar de frauda? Nem pensar, o ambiente estava cheiroso. O que seria? O que esses dois queriam? Nunca consigo ser capaz de pensar em uma solução?
É melhor voltar ao seu projeto, se dá melhor com códigos, números e ferramentas do que com pirralhos. Pirralhos que, no caso, eram meus irmãos.
Decido ir até a cozinha, onde se encontrava minha mãe fazendo salada para nossa janta. E meu pai, como sempre, fazendo contas. Digo que tenho sorte, eles não são uma família ruim.
Minha mãe passa cerca de doze horas do seu dia em casa, e quando não está aqui, está ou no mercado ou no shopping comprando mais roupas sem graça para usarmos. Diariamente, ela fazia uma inspeção em meu quarto para conferir se estava tudo dentro de seus critérios de higiene, igual ao resto da casa. Só podia estudar antes do almoço, dormia o resto do dia. Segundo ela, dormir é mais importante do que estudar. De lá pra cá, não vinha dormindo muito, estava focada em algo genial. Algo tecnológico. Algo que o resto da sociedade iria querer ao dar certo.
Meu pai, é o único que trabalha. Por enquanto, já que daqui dois dias irei finalmente fazer o último teste de minha vida. Era algo bom, e era algo ruim. Se eu tirasse menos de cinquenta, minha vida seria um inferno. Se eu tirasse noventa, seria perfeito. Meu pai é um tipo de cara que está sempre demonstrando seus sentimentos. Está sempre com a gente quando precisamos, e se eu terminar com um garoto e minha mãe não souber ajudar, ele larga tudo apenas para voltar pra casa. Mesmo que isso nunca tenha acontecido, já que nunca namorei ou pelo menos beijei um garoto, foi apenas um exemplo.
Sempre fui muito guardada. Nunca desabafei meus sentimentos ou se por um acaso meu cansaço com ninguém. Não reclamo, não alegro. Não sou introvertida, não sou extrovertida. Meus amigos eram maiores do que eu, e saíram do colégio dois anos atrás. Ninguém gostava de conversar na sala de aula, sem ser eu. Conversava apenas comigo mesma e fazia teorias sobre como seria o teste seguinte, como seriam as perguntas, resolvendo questões aleatórias do livro digital.
Estava parada no meio do corredor. Que diabos estava fazendo? Pelo anjo, Jennifer! Dei dois passos, retornei um, dei mais dois passos, retornei um. E nisso, estava ouvindo sem eles me verem.
- Ela não será capaz.
- Ela tem que ser.
- E se ela for muito capaz?
- Então teremos outros dois para serem o suficiente.
Não deveria mesmo ter escutado aquilo. Mas o não deveria não fazia diferença, já tinha escutado. Volto dois passos, e então entro no cômodo com um sorriso forçado. Ambos olham para mim, e então caminho até a mesa. Coloco a mamadeira que trazia comigo ali, e então declaro:
- Não sei o que Jamie e Geordan tem, mas não consigo resolver sozinha. - no mesmo momento, minha mãe larga suas louças na pia, pega a mamadeira, e retorna ao quarto. Um silêncio constrangedor se alastra pela cozinha. Mas, pelo visto alguém decidiu quebrar o gelo.
- Amanhã pensei em irmos á Central, assim já podemos ver de quanto será meu pagamento. - o que eu tinha a ver com isso?
- Okay. - respondi. Seria bom sair de casa em dia de semana, quase nunca isso acontecia e, quando era, eu apenas ia para escola ou para a biblioteca. Ao virar de costas para voltar pro meu quarto, escuto novamente sua voz.
- Eu acredito em você Jennifer, o problema é que, acredito demais. - ele faz uma pausa, e engole em seco para continuar. Não olho para ele. - Ela está nervosa, ela ama você, não quer te perder.
- Pai, eu já estou perdida. Não sei o que fazer. - respondo, sincera demais. Emotiva demais.
- Seja você, nunca deixe de seguir seus instintos. Isso deve ser o suficiente. - diz ao se levantar da cadeira para tocar meu ombro. Ainda não viro. Ainda não desistirei, tenho que ser forte, tenho que... tenho que ser eu mesma. Essa sou eu. Sou fria.
- Ser eu mesma? Seguir meus instintos?
- Isso. Seja você mesma. Siga seus instintos.
No fim, eu não virei. Eu não olhei em seus olhos e lhe dei um abraço. Eu sou fria. Sou fria como gelo. Não, eu não sou fria. Minha cabeça é fria. Não quero alguém que consiga derreter isso. Mas, encontrarei o que não desejo. Encontrarei alguém quente, alguém que faça isso derreter. Algum dia.
- São três passos, apenas três passos. - São alguns dias, apenas alguns dias.
Capítulo 2
Os raios solares entram pela janela e passam pela cortina, atingindo o meu corpo e o deixando quente. Cada vez mais quente. Vou derreter. Não, não agora. Não ainda. Retiro os cobertores ainda com meus olhos fechados. Sem coragem de abri-los, procuro minhas pantufas ao me sentar. Então, os abro lentamente, pisco algumas vezes, e então inspiro e expiro. Me levanto, me espreguiço. Penso em voltar para a cama por causa de leves marteladas em minha cabeça. Mas não. Passei a noite pensando em um teste do meu novo projeto, não vou desperdiçar.
Ele não era nada básico: era um projeto sobre teleporte. Como isso seria algo básico? Exatamente por isso não é. Após alguns minutos que levantei, ouço batidas na porta de meu quarto. Me arrumo o mais rápido possível e então abro a porta.
- Cadê a minha filha favorita? - diz meu pai, com uma animação que não estava nem um pouco afim de suportar. Dou um sorriso para ele e uma revirada de olhos.
- Seria estranho se eu não fosse, já que sou a sua única filha mulher.
- Mulher não, para mim você ainda é uma criança. - ele declara rindo logo após sua fala. Nem me declaro, apenas me viro e pego minha bolsa, que já continha meu projeto habitando no seu interior. Então, vamos.
No caminho, observo como é feia a nossa realidade. Um arco-íris se aparecesse no céu com certeza seria preto e branco. As crianças estavam sendo controladas a cada momento, sendo pressionadas desde sua infância. Neste exato momento, o momento em que vi duas crianças levarem uma bronca por simplesmente estarem brincando, eu jurei para mim mesma: eu vou mudar isso. Não tenho ideia de como, não tenho ideia de um começo para isso, mas eu vou. Eu sou a revolução desta era.
No século passado ao que vivemos agora, existiu um menino chamado Gabriel Díariaz, ele foi a revolução. Não aceitava tantas leis, as pessoas não poderem se expressar, não poderem viver. Começou a sair por ai pichando paredes, demonstrando que a mudança estava a vir. Infelizmente, morreu logo após conseguir as informações necessárias. Na escola, aprendemos que isso é errado, mas vejo que nem sempre o certo é certo ao ser colocada frente á frente com a realidade em que estamos. Devemos fazer sempre o que nós achamos que é certo, não o que eles nos dizem. Eles nos manipulam, eles querem que façamos o que eles mandarem. Eu não vou seguir ordens deles.
- Jennifer?
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